O dia amanheceu pesado. O templo do som estava silencioso, mas carregava uma tensão elétrica. Kael sabia que não era apenas um treino comum — hoje, enfrentaria outro artista. Uma batalha de sons, o primeiro teste real de seu poder.
O Guardião conduziu Kael até uma arena circular, elevada e iluminada por faixas de luz âmbar. No centro, outra figura esperava: um jovem de cabelos prateados, expressão séria e mãos inquietas, como se já sentisse cada frequência do ar.
— Este é Arion — disse o Guardião —. Um aprendiz que domina frequências avançadas de ataque e defesa. Não subestime a importância de sentir antes de reagir.
Kael sentiu o coração disparar. Ele sabia que, pela primeira vez, precisaria transformar sua Voz em arma. Inspirou profundamente, lembrando-se das lições do Guardião. Cada respiração, cada batida do coração, tornava-se parte de uma melodia invisível que se espalhava pela arena.
Arion não esperou. Um sussurro surgiu de sua boca, e de repente, ondas sonoras começaram a girar ao seu redor, formando barreiras cintilantes de energia pura. Kael podia sentir cada vibração como se fossem dedos percorrendo sua espinha.
— Agora é a sua vez! — gritou o Guardião.
Kael se concentrou. Fechou os olhos e deixou a Voz emergir, não como grito, mas como um fio de energia que buscava harmonizar o ambiente. Um som cristalino cortou o ar, atravessando as barreiras de Arion e fazendo o jovem prateado recuar.
As ondas de choque colidiram no centro da arena. Cada frequência criava padrões visuais de luz e sombra, como partituras tridimensionais dançando no espaço. Kael percebeu, pela primeira vez, que o som era tangível — podia empurrar, abrir caminhos e até ferir.
Arion reagiu rapidamente, ajustando a tonalidade de sua frequência. Uma batalha de harmonias e dissonâncias se formou. Cada movimento era acompanhado por uma onda sonora que refletia intenção e emoção. O público invisível — notas flutuando pelo ar — parecia vibrar junto, torcendo silenciosamente.
Kael sentiu o corpo pulsar no ritmo da própria Voz. Tentou sentir não apenas o ataque, mas o fluxo de Arion, antecipando cada nota que surgia. Com um movimento brusco, ele modulou sua frequência em tom baixo, profundo e poderoso. O impacto fez as paredes da arena tremerem, e Arion foi obrigado a recuar, equilibrando-se.
Por alguns segundos, o silêncio pairou. Um entendimento silencioso surgiu entre os dois: o som não era apenas combate — era expressão, diálogo e arte em sua forma mais pura. Cada nota carregava intenção, emoção e verdade.
Quando a primeira batalha terminou, Kael sabia que nada mais seria igual. Ele havia experimentado a Voz não apenas como poder, mas como linguagem universal.
Nota: Episódio 4 mostra a primeira batalha de Kael, introduzindo o conceito de combate musical. As frequências não apenas atingem o adversário, mas formam padrões visuais e sensoriais. Aqui, o leitor entende que cada batalha é tanto um duelo quanto uma performance artística, fundamentando a estética e o conceito de guerra de sons do mangá.